O Manancial da represa Billings, Zona Sul de São Paulo, SP, possui muitas
nascentes ao longo de sua bacia, que alimentam os cursos d’água que desembocam
na represa. Esse serviço ambiental é chamando de recarga hídrica e, no caso do
Manancial da represa Billings, as nascentes são importantes produtores de água
potável, pelo menos até o presente.
O volume de água produzido por uma nascente varia de
acordo com diversos elementos, como o nível de preservação da área ao redor. O
volume médio de água produzido por uma nascente da área conservada do Manancial
da Represa Billings é de 10 litros por segundo. Já as nascentes da área de ocupação
humana esparsa e densa produzem 20 vezes menos, 0,5 litro por segundo em cada
uma delas.
Essa enorme diferença mostra a importância vital da
floresta na produção de água. Considerando agora que nas áreas conservadas
existem 2.290 nascentes, e que nas áreas de ocupação humana esparsa temos 515
nascentes e nas de ocupação humana densa 591, conforme mostra a Figura 01, ao
longo de todo um ano, essas áreas produzem o equivalente a 722 milhões m³ de
água na área conservada; 84 milhões m³, na de ocupação humana esparsa e
109.962.878 m³, na de ocupação humana densa.
Trata-se de um grande volume de água. Se pensarmos em
piscinas olímpicas que armazenam 2.500 m3 de água, temos que as áreas
conservadas produzem 288.869 piscinas olímpicas cheias de água a cada ano, as
de ocupação humana esparsa, 33.781 piscinas, e as de ocupação humana densa,
43.985 piscinas. Portanto, as nascentes produzem mais água nas áreas
preservadas, que mantém sua cobertura florestal, representadas pelos pontos
verdes na Figura 01.
Figura 1: Nascentes da Bacia Hidrográfica da Represa Billings. O circulo verde representa a área do Parque dos Búfalos. Fonte: Matarazzo-Neuberger, 2010. |
O governo do Estado de São Paulo, na Lei estadual nº
12.183 de 2005 que estabelece a cobrança pelo uso da água e em seus
regulamentos, estipulou que o custo de cada m³ de água captada é de
aproximadamente R$ 0,017. Multiplicando-se este valor pela quantidade de água
produzida, teríamos que a cada ano as nascentes das áreas conservadas geram um
valor de R$ 12.349.182,00; as das áreas de ocupação humana esparsa R$
1.444.153,00 e, as de ocupação densa, R$ 1.880,365,00.
A água que é produzida
nas áreas conservadas têm uma qualidade muito superior à água produzida nas
demais áreas. O custo para tratar 1 litro desta água é 16 vezes menor que o
custo para tratar o mesmo litro produzido em uma área de ocupação humana densa
e 3 vezes menor que em uma área de ocupação esparsa. Numa situação hipotética,
para tornar toda a água produzida pela bacia potável, o custo total de
tratamento por ano seria de aproximadamente 24 milhões de reais, com 15
milhões dedicados a tratar somente a água proveniente das áreas de ocupação
humana densa. Ou seja, é um maior custo, mas para uma quantidade de água menor.
Nessa perspectiva, investir para conservar as áreas da
bacia com ocupação humana esparsa e mesmo densa é um investimento viável porque
ajuda a produzir mais água com menor custo de tratamento. Essa visão derruba a
noção de que fazer um investimento em conservação da natureza não gera benefícios
econômicos e mostra o prejuízo causado a toda a sociedade pela degradação das
áreas de uma bacia hidrográfica.
Segundo a PROAM, a diminuição da produção natural
(desmatamento – desertização) é um dos 12 elementos que fazem com que o
Manancial da Represa Billings se encontre na categoria de vulnerabilidade alta.
A perda crescente na produção natural de água dos ecossistemas, decorrente do
desmatamento, do uso irregular e predatório do solo, e do aterramento de
nascentes e áreas de drenagem são diagnosticados em todas as áreas dos
mananciais metropolitanos.
A cidade está continuamente se expandindo e aterrando
os mananciais. A perda de produtividade hídrica natural da Billings, que em
1930 contava com aproximadamente 25m³ por segundo em média anual, é hoje de 12,5m³/segundo.
Com o aquecimento global e a alteração da pluviometria para precipitações mais
intensas seguidas de veranicos ocorrerá fragilização de recarga nos aquíferos,
impedindo que, na época da estiagem, os reservatórios mantenham produção firme,
como vem ocorrendo com a principal represa da Manancial da Cantareira.
Figura 2: Localização das nascentes do Parque dos Búfalos. Sem escala. Fonte: Caracterização Hidroambiental do Parque dos Búfalos - ROCHA, 2015 |
Bibliografia Utilizada
ROCHA, B. R. A. Caracterização Hidroambiental do Parque dos Búfalos. Jul. 2015.
FOLHA DE S. PAULO. Área
do Parque dos Búfalos vive impasse entre moradia e preservação. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2015/03/1601495-area-do-parque-dos-bufalos-vive-impasse-entre-moradia-e-preservacao.shtml>.
Acessado em: 16 mar. 2015
INSTITUTO BRASILEIRO DE PROTEÇÃO AMBIENTAL – PROAM. As crises de água e
energia: a escassez e a Política Nacional de Recursos Hídricos. Campanha
Billings, Eu te quero Viva!. São Paulo, SP, 2015. Disponível em: <http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/repositorio/20/PP%20MPF%2025022015.pdf>. Acessado em: 03 abr. 2015.
Matarazzo-Neuberger, W.
M. Serviços ambientais prestados pelas florestas da Bacia da Represa Billings /
Erika Longone, Meire Cristina A. de Castro Pauleto, Vicente Manzione Filho ;
organização de Waverli Maia Matarazzo Neuberger. São Bernardo do Campo : Ed. do
Autor, 2010. 16 p. Disponível em: <http://portal.metodista.br/fontedemudancas/aulas/cartilha-servicos-ambientais-prestados-pela-floresta-da-bacia-da-represa-billings
>. Acessado em: 03 abr. 2015.
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